Resenha | Good News — Megan Thee Stallion traz boas notícias (mas podiam ser ainda melhores)

Depois de 4 EPS/Mixtapes a rapper finalmente lançou seu debut álbum

emerson, o esteves
4 min readNov 27, 2020

“Good News”
Gravadora: 1501 Certified Entertainment & 300 Entertainment
Tracklist: 15 músicas
Feats: DaBaby, City Girls, Lil Durk, SZA, Mustard, Popcaan, 2 Chainz, Big Sean, Beyoncé, Young Thug
Duração: 49m50s
Gênero: Hip-hop

“Good News” é o primeiro álbum de Megan Thee Stallion

É até difícil avaliar um álbum de estreia quando a artista, mesmo tão nova, se consolidou na música com trabalhos de muita personalidade e autoria. “Good News” o debut da rapper texana Megan Thee Stallion pode soar muito bom para os ouvintes que ela conquistou desde o mega hit Savage que ao lado de Beyoncé catapultou o nome da artista para um nível antes nunca alcançado. Entretanto, pode soar pouco coeso e inferior aos seus primeiros registros para quem a acompanha a mais tempo.

O álbum chega ao mercado depois do lançamento de 4 EP’s ou Mixtapes: Make it Hot (2017), Tina Snow (2018), Fever (2019) — entrou na minha lista de melhores álbuns lançados no ano passado, Suga (2020) que revelou o hit global “Savage”. Ela ficou reconhecida por esses trabalhos por possuir rimas rápidas e ácidas, um som cru e intenso que destacava seu poder como letrista e rapper. Talvez, essa seja a característica que mais fica devendo no “Good News”, a potência de Megan.

Mesmo ao lado do produtor Lil Ju e Juicy J (por trás de canções como “Big Ole Freak” do Tina Snow e de boa parte do “Fever”), Stallion recrutou um time bem maior em comparação aos seus antecessores. 14 produtores estão por traz do Good News com destaque para os beatmakers de alto escalão como Tay Keith (Travis Scott, Drake) e Mustard (Rihanna, Big Sean) que dão um tom mais otimista e positivo para o disco. E faz sentido depois do ano de altos e baixos que a Megan teve. “Good News” celebra sua vida e história.

Arte de promoção do “Good News”

Ao contrário de seus trabalhos anteriores, com seus tons sombrios e ardentes, o disco de estreia da rapper celebra suas conquistas, vitórias e pretende trazer boas notícias. Porém, o projeto se perde um pouco em suas próprias ambições grandiosas, falta um fio condutor para ligar as 17 músicas do material.

Mesmo demonstrando ser uma excelente letrista e rapper, como nas excelentes Shots Fired, Sugar Baby, Go Crazy, ela escorrega numa tentativa falha de diversificar este trabalho com novos sons. A fraca colaboração com DaBaby em “Cry Baby”, o refrão enjoativo e repetitivo de “Body” e “Work That”, e a tentativa do synth-pop disco oitentista de “Don’t Rock Me To Sleep” destoam do material e soam um tanto quanto descartáveis. Elas estão dentro do saco de possuírem batidas mais lúdicas e descontraídas, mas pecam na sua execução.

Os versos afiados de Megan seguem mais vivos do que nunca. Frases como “Invest in this pussy, boy, support Black business” e “I’m a boss, I could buy the same thing my man bough” mostram uma característica que diferencia a texana de outras rappers, seu poder de composição. Os pontos altos do “Good News” são justamente quando Stallion encontra o equilíbrio entre as pushlines e os versos mais afiados com as batidas mais leves.

Shots Fired, que deve ser uma diss para o rapper e até então amigo dela Tory Lanez que supostamente teria a baleado, a refrescante e R&B noventista de Freaky Girls (feat. SZA) e as já conhecidas Savage, Girls in the Hood e Don’t Stop elevam o material para um nível que já conhecemos da rapper e soam como uma evolução dos seus trabalhos anteriores. Ao contrário do restante do álbum.

Veredito

Megan Thee Stallion é uma mulher negra de 25 anos, perdeu os pais muito cedo, passou por um trauma emocional de ser baleada e ser observada por milhões de pessoas — que muitas das vezes a julgava por toda situação. A proposta do “Good News” é muito coerente com a atual fase da vida da rapper, celebrar a vida e — finalmente — o lançamento do primeiro álbum com letras mais otimistas e até lúdicas, entretanto a execução fica aquele gostinho que ela podia fazer mais.

“Good News” pode soar inferior ao “Fever” e o “Tina Snow” se levar em conta apenas aspectos técnicos e de composição, porém é interessante notar como Megan tem contornado tudo de ruim que tem acontecido com ela e transformado isso em música. Seu debut está longe de entregar tudo que ela é capaz, mas para o momento é satisfatório e aponta para bons novos horizontes para a revelação de Houston.

As notícias são boas, mas poderiam ser ótimas.

esteves ouvindo: Shots Fired, Freaky Girls, Go Crazy

7/10

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